“Lula estará conosco”, diz Dilma, em segundo discurso como presidente

Fonte: Maurício Savarese Do UOL Notícias Em Brasília

Em seu primeiro discurso já com a faixa presidencial, e o segundo após ser empossada, Dilma Rousseff citou várias vezes o mentor e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, repetiu acenos à oposição e lembrou dos companheiros de guerrilha que conviveram com ela durante a ditadura militar (1964-1985). Durante a cerimônia no escritório do governo neste sábado (1º), a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente no país se emocionou ao discursar.

Depois de subir a rampa do Palácio do Planalto e abraçar demoradamente o homem que a projetou, Dilma afirmou que, mesmo não ocupando cargos políticos, o ex-presidente continuará contribuindo com o governo. “Lula estará conosco. Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza”, afirmou, após receber a faixa no parlatório do Palácio do Planalto, ao lado do vice, Michel Temer. “A tarefa de suceder Lula é desafiadora. Saberei honrá-la e irei avançar.”

“Estou feliz como raras vezes estive na vida, com a oportunidade que a história me deu de ser a primeira mulher na história a governar o Brasil. Mas estou mais feliz pela honra de seu apoio, de ter o privilégio de sua convivência e ter apreendido com sua imensa sabedoria”, disse Dilma, referindo-se a Lula.

Dilma creditou sua eleição ao ex-presidente. “A vontade do nosso povo levou um operário à Presidência. Seu esforço, sua dedicação e seu nome já estão gravados no coração do povo, o lugar mais sagrado que existe”, disse. “Lula liderou as principais transformações na história do país. Permitiu que o povo tivesse uma nova ousadia: colocar uma mulher na presidência do Brasil.”

Tom informal
O segundo discurso da presidente, sem ter ao lado aquele que chamou de “maior líder popular que este país já teve”, durou menos de 13 minutos e teve um tom mais informal do que o primeiro pronunciamento (assista ao lado), feito na Câmara dos Deputados. O tom utilizado lembrou o do texto lido por ela após sua vitória nas eleições de outubro. O vice de Lula, José Alencar, internado em São Paulo, foi lembrado.

“Uma mulher, importante líder indiana, diz que não se pode dar um aperto de mão com os punhos fechados. Meus braços estarão abertos desde os nossos aliados mais próximos até aqueles que não estiveram conosco no processo eleitoral”, disse.

Menção especial também mereceram os companheiros de Dilma durante a luta contra a ditadura. “Não carrego hoje nenhum ressentimento, nem espécie de rancor. A minha geração veio para a política em busca da liberdade, num tempo de escuridão e medo. Pagamos o preço da nossa ousadia. Aos companheiros meus que tombaram nessa caminhada, a minha eterna lembrança”, afirmou ela, que ficou presa por três anos na década de 70 e que foi torturada na prisão. Colegas de cela daquele período estiveram presentes na cerimônia no Palácio do Planalto, assim como a mãe e a tia da petista.

No final do discurso, Dilma citou Deus: “Que Deus abençoe o brasil e o povo brasileiro. Que todos nós juntos possamos construir um mundo de paz. Eu darei todo meu empenho para fazer com que as transformações dos últimos oito anos continuem, prossigam e se expandam”.

Coro, só para Lula

Momentos antes de passar a faixa presidencial a Dilma, Lula chegou ao saguão do Palácio do Planalto risonho. Cumprimentou ministros com tom debochado: “Juízo, meninos”, repetiu. A mulher dele, Marisa Letícia, chorou ao abraçar amigas. Por pelo menos um minuto, os convidados entoaram o nome do agora ex-presidente. A nova ocupante do cargo não teve o nome gritado dentro do palácio nenhuma vez.

Entre os convidados, estavam os ex-ministros-chefes da Casa Civil, Erenice Guerra e José Dirceu – ambos excluídos do governo anterior em escândalos de corrupção. Erenice é suspeita de tráfico de influência e nepotismo, enquanto Dirceu deixou o cargo ao ser indicado como articulador do mensalão.

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